Impactos do tarifaço no RJ: 42% das empresas que serão taxadas admitem chance de demissões
06/08/2025
(Foto: Reprodução) Impactos do tarifaço no RJ: 42% das empresas que serão taxadas admitem chance de demissões
A tarifa de até 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros começa a valer nesta terça-feira (6) e deve provocar efeitos profundos na economia do estado do Rio de Janeiro – segundo maior parceiro comercial americano no país, atrás de São Paulo. As empresas afetadas admitem redução de vendas, alta de preço e possibilidade de demissões.
Segundo a Federação das Indústrias do RJ (Firjan), 60% das empresas do RJ afetadas pela nova tarifa estão preocupadas com a redução nos negócios e 42% admitem que podem ter que demitir funcionários.
A medida impacta diretamente dezenas de cidades fluminenses que exportam para os EUA, como Petrópolis, Duque de Caxias, São João da Barra, Macaé e a capital. Em 2024, as exportações do RJ para os EUA somaram US$ 7,4 bilhões (cerca de R$ 40 bilhões), de acordo com levantamento da Firjan.
Em Caxias, por exemplo, uma empresa que exporta lagosta e outros pescados para os EUA viu os custos com frete aéreo dispararem nas últimas semanas para tentar embarcar o máximo de mercadorias antes da virada da tarifa.
“É praticamente uma proibição. A tarifa de 50% inviabiliza o negócio”, afirmou Rafael Barata, diretor de comércio exterior da empresa.
Petrópolis teme queda nas vendas e nas contratações
Na serra, a indústria da moda também sente o impacto. A empresária Déspina Filios, que comanda uma confecção de biquínis em Petrópolis há 35 anos, exporta 60% da produção para os Estados Unidos, cerca de 150 mil peças por ano.
“Temos esperança de que haja pressão diplomática. Nossos clientes estão em choque”, diz Déspina.
Ela reconhece que o tarifaço deve ser repassado ao consumidor:
“Não dá pra absorver esse impacto sozinha. Os preços vão subir e as vendas devem cair.”
Pequenas empresas do interior: as mais atingidas
O presidente da Firjan, Luiz Césio Caetano, diz que os empresários menores serão os mais penalizados:
“A duras penas conseguiram abrir mercado fora do país. Agora, sem estrutura para reagir tão rápido, podem fechar as portas.”
Para tentar conter os danos, a Firjan articula uma missão empresarial a Washington junto com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), para negociar diretamente com empresas e associações norte-americanas.
Os 10 municípios que mais exportaram para os EUA em 2024:
As 10 cidade do RJ que mais exportaram para os Estados Unidos em 2024
Reprodução/TV Globo
Rio de Janeiro – US$ 4,95 bilhões
Duque de Caxias – US$ 1,64 bilhão
São João da Barra – US$ 953 milhões
Petrópolis – US$ 900 milhões
Macaé – US$ 699 milhões
Volta Redonda – US$ 69 milhões
Três Rios – US$ 49 milhões
Itatiaia – US$ 47 milhões
Porto Real – US$ 26 milhões
Niterói – US$ 22 milhões
Ao todo, 48 cidades fluminenses exportaram produtos para os EUA este ano. Além dos grandes polos, há municípios como Cordeiro, Tanguá, Casimiro de Abreu e Carmo, que dependem da venda de produtos específicos ao mercado americano.
Cadeias produtivas ameaçadas
Empresários relatam que o impacto da tarifa atinge toda a cadeia, desde o pescador artesanal e o operário da indústria têxtil até o transporte e os distribuidores.
“A gente precisa manter essa máquina girando antes de tomar decisões mais drásticas”, alerta Rafael Barata, do setor de pescados.
Enquanto o petróleo — carro-chefe da balança comercial do estado — ficou de fora da tarifa, diversos outros setores seguem sem previsão de alívio.